De acordo com o informe, a média de contração de investimentos no mundo será de 40% em 2020. O ano de 2019 havia fechado com US$ 1,54 trilhão em fluxos de capital. Mas o tombo traria o novo nível para menos de US$ 1 trilhão pela primeira vez desde 2005.
A queda não terminará em 2020 e, para o próximo ano, a contração deve ser de mais 10%. Uma recuperação, portanto, só seria recomeçada em 2022.
“O panorama é altamente incerto. As perspectivas dependem da duração da crise de saúde e da eficácia das políticas que mitigam os efeitos econômicos da pandemia”, disse o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi.
A perspectiva de uma recessão profunda levará as empresas multinacionais a reavaliarem novos projetos. De acordo com a entidade, as 5 mil maiores empresas do mundo viram seus ganhos caírem em média em 40%, com algumas indústrias mergulhando em prejuízos. Lucros menores, portanto, representam queda de investimentos.
“Os primeiros indicadores confirmam o imediatismo do impacto”, diz a ONU. “Tanto os anúncios de novos projetos de investimento quanto as fusões e aquisições internacionais caíram mais de 50% nos primeiros meses de 2020, em comparação com o ano passado”, apontou.
Aumento do fluxo ao Brasil em 2019 permitiu superar Reino Unido e Alemanha
A queda em 2020 ocorre depois de um aumento do fluxo de investimentos para a região em 2019. O ano viu um incremento de 10% no fluxo, impulsionado pelo Brasil, Chile e Colômbia.
O Brasil registrou um aumento de 20% nos investimentos, atingindo US$ 72 bilhões. O capital foi atraído pelas indústrias de extração de petróleo e gás e eletricidade e apoiados por um programa de privatizações.
Com o aumento, o país do nono maior destino de investimentos no mundo em 2018 para a sexta colocação, superando Reino Unido, Alemanha ou França.
“As condições econômicas pareciam melhorar no país, e um amplo programa de privatização foi lançado em julho como parte dos esforços do governo para relançar a economia. Durante os primeiros nove meses de 2019, o governo levantou cerca de US$ 20 bilhões através de privatizações e desinvestimentos, US$ 1,4 bilhão em pagamentos por direitos de operação de infra-estrutura e cerca de US$ 3 bilhões em “vendas de ativos naturais”, constituídos principalmente pelas áreas de exploração de petróleo da Petrobras controladas pelo Estado”, apontou a ONU.
“A primeira e maior dessas privatizações envolveu uma empresa de distribuição de gás – Transportadora Associada de Gás – comprada por um consórcio de investidores liderados pela Engie (França) por quase US$ 8,7 bilhões”, indicou.
“Para 2020, o governo esperava poder vender mais US$ 35 bilhões de ativos; entretanto, como a pandemia do coronavírus está levando a economia de volta à recessão, a volatilidade associada à crise piorou as condições de venda, forçando as autoridades a adiar a maior parte das vendas anunciadas de ações”, afirmou a ONU.
“Da mesma forma, as transações que aguardam aprovação regulatória foram interrompidas. Elas incluem, por exemplo, a tão esperada venda da Eletrobras – a maior concessionária de energia da América Latina – e a venda de oito refinarias pela Petrobras no valor de US$ 10 bilhões”, constatou a ONU.
“As vendas de ativos de exploração e produção de petróleo provavelmente serão as mais afetadas pela queda nos preços do petróleo, que apagou mais da metade do valor de mercado da Petrobras”, alertou. “A indústria de energia renovável atraiu um número crescente de projetos nos últimos anos também está passando por uma desaceleração após o surgimento da COVID-19. O governo está adiando indefinidamente uma série de leilões de ativos de transmissão e geração até que a pandemia se instale”, completou.
Já os investimentos da região no mundo cresceram em 2019 e atingiram US$ 42 bilhões. Os maiores aumentos foram registrados no Brasil, México e Chile. De acordo com a ONU, as empresas brasileiras parecem ter suspendido sua prática de repatriar recursos de suas subsidiárias no exterior para financiar operações em casa. Um dos motivos seria a queda da taxa de juros doméstica.
Da posição de número 160 no mundo, em 2018, o Brasil subiu para a 20a colocação como maior investidor no mundo. No ano passado, foram US$ 16 bilhões de fluxo para fora do país. Pesou nessa conta a aquisição da loja de departamentos Éxito (Colômbia) do Groupe Casino (França) pela Cia Brasileira de Distribuição por quase US$ 1,1 bilhão.