A mA?e do menino de 8 anos, queA�desmaiou de fome em uma escola pA?blica do DFA�na A?ltima semana, falou pela primeira vez sobre o caso, neste sA?bado (18). Leidiane Amorim tem 29 anos, cuida de 6 filhos, e estA? desempregada. Um outro filho da ex-catadora mora com a avA?, no CearA?.
“Eu sou o pai e a mA?e deles. Sou tudo ao mesmo tempo.”
Leidiane vivia com a famA�lia em um barraco em uma A?rea invadida no Noroeste, regiA?o nobre do Plano Piloto, em BrasA�lia. Como estava perto do centro da capital, ela trabalhava como catadora de lixo reciclA?vel. HA? um ano foiA�contemplada com um apartamento do programa Minha Casa MInha Vida no ParanoA? ParqueA�e se mudou para o condomA�nio, a 28 km da A?rea central.
No condomA�nio, moram cerca de 6 mil famA�lias, mas nA?o hA? escola. Por conta disso, os filhos de Leidiane, assim como outras 250 crianA�as a�� todas de famA�lias de baixa renda a�� estudam no Cruzeiro, que fica a 30 km de distA?ncia. TambA�m nA?o hA? emprego na regiA?o, dizem os moradores que receberam as chaves do programa habitacional.
Leidiane recebe R$ 946 de programas assistenciais. Ela explica que nA?o consegue pagar todas as contas e ainda comprar roupas e comida para os seis filhos com idades entre 2 e 13 anos. “SA?o R$ 138 de A?gua e condomA�nio, R$ 80 da parcela [do apartamento], a energia vem um absurdo, vem R$ 70 ou R$ 80”.
A filha mais velha, de 13 anos, diz que A� comum que ela e os irmA?os vA?o para a escola com fome.
“A barriga da gente fica doendo de tanta fome . A gente fala pra professora, mas ela nA?o tem como resolver.”
Nesta semana, depois da repercussA?o do desmaio de um dos filhos de Leidiane, a escola e voluntA?rios doaram alimentos para a famA�lia. Neste sA?bado (18), o governador Rodrigo Rollemberg disse que oA�problema A� pontual da famA�lia, e nA?o da escola.
Mesmo assim, o GDF diz que vai entregar uma cesta bA?sica e mais um auxA�lio vulnerabilidade de seis parcelas de R$ 408 para Leidiane. Uma equipe de nutricionistas tambA�m foi A� escola, e a Secretaria de EducaA�A?o estuda mudanA�as no cardA?pio dos alunos que moram longe do colA�gio.
Especialista questiona
Para o especialista em educaA�A?o Afonso GalvA?o, o caso do menino revela um problema sistA?mico. “A� uma dA�vida que A� reflexo de nossa situaA�A?o de desigualdade extrema. Eu acho que essa situaA�A?o tem que ser resolvida de um modo mais competente. NA?o A� com soluA�A�es medA�ocres, nA?o A� com soluA�A�es, desculpe a expressA?o, ‘meia boca’, que se vai resolver isso”, afirma.
“O governo nA?o pode ajudar essas pessoas que estA?o desassistidas, que estA?o em situaA�A?o de extrema pobreza, pela metade.”
De acordo com GalvA?o, o governo nA?o deveria, por exemplo, oferecer uma condiA�A?o de moradia onde o contemplado tem que pagar uma prestaA�A?o que muitas vezes nA?o consegue. “Para manter a casa ele vai tirar dinheiro de um aspecto fundamental, que A� a prA?pria alimentaA�A?o das crianA�as e adolescentes”.
Ele tambA�m contesta o entendimento do GDF de que a fome nA?o A� um problema da escola. Segundo GalvA?o, “a escola A� um epicentro de proteA�A?o A� crianA�a e ao adolescente, e todas as polA�ticas, as educacionais e sociais tambA�m, elas devem ter como centro de desenvolvimento o espaA�o escolar.”
“A� na escola que se observa se a crianA�a estA? com um comportamento estranho, se a crianA�a estA? mal nutrida, se a crianA�a estA? com qualquer tipo de problema .”
Para o especialista, polA�ticas sociais devem ser desenvolvidas a partir da escola. “O espaA�o escolar deve ser um lugar onde as crianA�as sejam devidamente protegidas e tenham um ambiente acolhedor capaz de fazer com que a sua capacidade cognitiva seja otimizada”, explica.
GalvA?o diz ainda que acredita que o caso do filho de Leidiane seja uma exceA�A?o, mas chama o episA?dio de “uma metA?fora da crise do sistema educacional”.
“Ao que parece, A� uma escola que recolhe as crianA�as A�s 11h para uma aula que comeA�a A�s 13h30. Evidentemente, nA?o hA? condiA�A�es de almoA�ar direito […] e eles vA?o ter merenda sA? mais tarde. Com isso, lA?gico, ela vai ficar prejudicada em sua capacidade de aprender e prejudicada tambA�m em sua prA?pria capacidade de condiA�A?o humana, de desenvolvimento humano.”
Fonte G1 DF