Os fluxos de investimentos para a América Latina devem diminuir pela metade em 2020 e o Brasil já está sendo atingido de maneira profunda. Os dados estão sendo publicados nesta terça-feira pela ONU. No mundo, a pandemia do coronavírus deve fazer o montante de investimentos recuar em 15 anos e, segundo os especialistas, há um potencial de modificar até mesmo a forma de produção.
De acordo com o informe anual da entidade, a América Latina deve ser uma das mais afetadas. Em 2019, a região recebeu US$ 164 bilhões, dos quais US$ 72 bilhões foram exclusivamente ao Brasil. Neste ano, a queda pode ser de 55%.
Para a agência, a pandemia gera tanto uma agitação política e social quanto evidencia as fraquezas estruturais da região. “Isso empurra as economias da região para uma profunda recessão e exacerbando os desafios para atrair investimentos estrangeiros”, disse o diretor de Investimentos da Conferência da ONU para Desenvolvimento e Comércio, James Zhan.
Segundo ele, commodities, turismo e transporte estão entre os mais severamente atingidos.
“Os baixos preços do petróleo e das commodities prejudicarão os investimentos nas principais economias da América do Sul – Colômbia, Brasil, Argentina, Chile e Peru – que dependem do investimento estrangeiro direto (IED) nas indústrias extrativas”, disse o estudo. Na indústria manufatureira, o setor automotivo e têxtil estão sofrendo choques tanto de oferta quanto de demanda.
Os primeiros indicadores mostram uma queda de 36% no número de novos projetos anunciados no primeiro trimestre deste ano na América Latina. A projeção é ainda considerada como sendo conservadora, pois a maior parte do impacto sobre os projetos será evidente a partir de abril, quando as quarentenas começaram a ganhar contornos sociais e econômicos.
No Brasil, os dados do primeiro trimestre em termos de fluxo de equity mostram uma queda de 50%. Outro fator que deve pesar no país é a crise no setor de extração de petróleo. Pelo mundo, dados mostram queda de demanda e nos preços, o que já se traduz em queda de investimentos. No Brasil, porém, a extração de petróleo representa 32% dos investimentos.
No setor de energia, investimentos estrangeiros sofreram queda de 77% no primeiro trimestre no Brasil. O número de novos projetos no setor caiu em 25%, contra uma queda de 40% na mineração. No setor automotivo, a queda de investimentos nos primeiros três meses do ano foi de 64%. Para completar, a ONU estima que o programa de privatizações deve ser adiado.
O resultado foi sentido em toda a América Latina. O número de aquisições estrangeiras na região, por exemplo, diminuiu a cada mês em relação à média de 2019. Em abril, a contração foi de 78%.
As paralisações, a queda da demanda e o acesso limitado ao comércio estão empurrando as empresas para perdas consideráveis. Desde o início de fevereiro, grandes empresas da região revisaram suas expectativas de lucros para o ano fiscal de 2020 em mais de 50% para baixo, mais do que empresas de outras regiões.
Na avaliação da ONU, os sinais de relaxamento de medidas de distanciamento social podem prolongar a crise de saúde na região, o que também ameaça a própria recuperação. Além disso, as economias da região serão fortemente afetadas pela desaceleração da demanda global, particularmente em seus parceiros comerciais, notadamente a China e os Estados Unidos.