Javier Milei, deputado de extrema direita da coalizão A Liberdade Avança, foi eleito o novo presidente da Argentina neste domingo (19).
Ainda antes do resultado oficial ser divulgado, Sergio Massa, ministro da Economia e candidato governista, discursou reconhecendo a vitória do oponente. A campanha eleitoral foi marcada por forte polarização e acusações de ambos os lados. O principal desafio do novo presidente é lidar com a crise econômica e controlar a inflação do país.
55,74%
dos votos foram para Milei, segundo parcial divulgada por volta das 20h30 deste domingo (19). Massa obteve 44,25%
O resultado reverteu o cenário do primeiro turno, quando o candidato peronista da coalizão União pela Pátria obteve 36,68% dos votos, e o agora presidente eleito da coalizão La Libertad Avanza conquistou 29,98%.
“Hoje começa o fim da decadência argentina, termina o modelo empobrecedor do Estado onipresente. A Argentina tem futuro, e esse futuro é liberal. Se abraçamos essas ideias, não vamos apenas poder resolver os problemas de hoje, mas dentro de 35 anos voltaremos a ser uma potência mundial”
Javier Milei
presidente eleito da Argentina, em discurso de vitória neste domingo (19)
“Foi uma campanha muito longa e difícil, com conotações duras e espero que o respeito por quem pensa diferente seja estabelecido na Argentina”
Sergio Massa
candidato à Presidência da Argentina pela coalizão União pela Pátria em declaração neste domingo (19)
Os dois candidatos votaram por volta do meio-dia, na região metropolitana de Buenos Aires. Milei disse esperar que “amanhã haja mais esperança, não tanta continuidade e decadência”. O político de extrema direita chegou ao seu local de votação sob forte esquema policial, reportou o site CNN Brasil.
Massa falou em “nova etapa” do país, destacando a necessidade da “boa vontade, inteligência e capacidade” para que a Argentina “percorra um caminho muito mais virtuoso”, conforme registrou o jornal Folha de S.Paulo.
Ambos os partidos denunciaram problemas com as boletas, como são conhecidas as cédulas de votação. Na Argentina, o pleito acontece em cédulas de papel depositadas dentro de uma urna nas cabines eleitorais, chamada de sala escura, como explicou o site Poder 360. A participação é facultativa e estavam aptos a votar 35,8 milhões de pessoas.
Do lado de Milei, a acusação neste domingo (19) é que os eleitores tenham depositado boletas antigas que seriam inválidas a favor do oponente. Já do lado de Massa a alegação é que boletas rasuradas com a identificação incorreta da chapa tenham sido usadas.
Ao longo da campanha do segundo turno, a coalizão de Milei também tentou emplacar a tese de fraude no sistema eleitoral, mas sem apresentar provas. O partido chegou a fazer uma denúncia formal sob a alegação de que os fiscais eleitorais que apoiam o político deram falta de cédulas que teriam sumido.
A estratégia do argentino é similar àquela usada por Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Não à toa, Milei é comparado aos ex-presidentes de extrema direita. Em reportagem, o jornal americano The New York Times traçou a semelhança entre os três.
Em mais um paralelo, no segundo turno, Milei foi apoiado pela direita tradicional argentina, assim como aconteceu no Brasil nas eleições de 2018, quando partidos de direita lançaram seu apoio a Jair Bolsonaro – que viria a ser leito.
Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar no primeiro pleito, e o ex-presidente Maurício Macri apoiaram Milei. Bullrich justificou a adesão à candidatura de extrema direita dizendo que o país sul-americano se encontra “diante do dilema entre a mudança e a continuidade mafiosa”, como mostrou o Nexo à época. Em seu discurso de vitória neste domingo (19), Milei agradeceu aos dois políticos que, segundo ele, “deram tudo de si para defender a mudança que a Argentina precisa”.
Na reta final das eleições, a agora vice-presidente eleita Victoria Villarruel declarou que apenas a “tirania” poderá resolver a crise argentina. A fala gerou forte repercussão negativa, conforme registrou o jornal O Globo.
Desafio econômico
A Argentina chegou às eleições presidenciais afundada em uma crise econômica marcada por inflação, escassez de dólares, seca, problemas de dívida e aumento da pobreza. O contexto engrossa uma coletânea de momentos caóticos da economia do país. O Nexo mostrou num Expresso que os episódios de grave instabilidade se sucedem desde ao menos a década de 1980.
Milei tem propostas radicais para a economia, que ecoam ideias de redução radical do papel do Estado, ampliação de liberdades individuais e aposta na economia de mercado. A principal delas é a dolarização, cuja viabilidade é vista com ceticismo por economistas ouvidos pelo Nexo em agosto de 2023.
Votação em outros países
A votação argentina também foi registrada em outros países, como contou o jornal argentino Clarín. Em Paris, na França, Massa venceu por quase 18 pontos de vantagem: obteve 56% enquanto Milei ficou com 38,7%. Outros 4,4% cidadãos aptos a votar escolheram branco e 1% dos votos foi nulo.
No Brasil, a Embaixada da Argentina informou que 100 argentinos votaram em Brasília. Segundo o órgão, 365 pessoas estavam aptas a votar. O número baixo se deve à localização dos argentinos em solo brasileiro. Muitos estão em outras regiões que não na capital federal, como explicou o site G1.
Na reta final da campanha o Brasil foi um dos temas mais debatidos entre os candidatos. O Nexo mostrou que Massa acusou Milei de querer romper relações comerciais com o Brasil. Embora tenha negado durante debate, o candidato de extrema direita chegou a declarar que não faria negócios com “nenhum país comunista”, o que, em sua visão, inclui o Brasil e a China. Ele chegou a citar nominalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chinês Xi Jinping. Os países são, respectivamente, os dois maiores parceiros comerciais da Argentina.
Neste domingo (19), o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, declarou à rede CNN Brasil que não há risco imediato da Argentina sair do Mercosul, bloco econômico de integração regional fundado em 1991 pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Que seja um próspero governo e a Argentina de um grande e esperado salto na econômia.