A cuidadora Simone Aparecida Lopes, de 46 anos, nasceu em Tanabi, São Paulo, mas foi levada ainda criança para Cariacica
Eu acordei acreditando que era uma pessoa e fui dormir depois de descobrir que era outra. Quero conhecer minha verdadeira história”. Foi assim que a cuidadora Simone Aparecida Lopes Garcia, de 46 anos, contou como descobriu que tinha sido sequestrada ainda criança.
Simone relatou que, durante toda a vida, acreditou ser filha do armador Pedro Antônio Garcia. Mas após a morte dele, ficou sabendo que, quando tinha 2 anos de idade, foi retirada de casa por Pedro, na época com 34 anos.
Naquele período, ela morava na zona rural da cidade paulista de Tanabi, a 477 km da capital, São Paulo, e foi levada para Cariacica. Pedro contava que a mãe dela, Iraildes da Cunha Lopes, havia morrido antes de eles se mudarem para Cariacica.
Porém, Simone desconfiava que existia algo além da morte da mãe que Pedro não havia contado. Antes de ele morrer, em maio de 2006, por causa de um derrame cerebral, Simone perguntou se ele tinha informações a mais sobre a mãe.
“Eu fui a última pessoa a falar com ele. Perguntei: ‘pai, fala para mim se minha mãe ainda está viva, onde ela está’. Mas ele negou”, disse.
Foi somente este ano que Simone tentou buscar a verdade sobre a mãe. Entrou em contato com a maternidade onde teria nascido, em São Paulo, e ligou para delegacias de regiões próximas a Tanabi.
O que ela descobriu foi que Iraildes tinha morrido, mas que a sua mãe verdadeira era outra: Neide Aparecida Pereira, que tinha 22 anos na época em que Simone havia sido sequestrada.
A partir de então, a cuidadora descobriu que a mãe biológica procurou por ela entre 1975 e 1977, com todos os boletins de ocorrência registrados pela polícia.
Simone também soube que a mãe foi abandonada por seu pai biológico antes de seu sequestro e que Pedro, por ser uma pessoa de confiança da família, teve acesso fácil à criança.
“Eu tinha pai, mãe e duas irmãs. A família com quem eu vivi não era minha. É como se minha vida tivesse sido uma mentira”, contou. “O Pedro é o único que sabe a razão do meu sequestro. Mas, infelizmente, ele morreu”.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Estado de São Paulo informou que, por ser uma ocorrência antiga, vai precisar de mais tempo para apuração.
“Espero que alguém me ajude”
A Tribuna –Como você descobriu que foi sequestrada?
Simone Aparecida Lopes Garcia – Quando meu pai era vivo, eu percebia que algo estava errado com a história da minha mãe. Nunca acreditei que ela tinha morrido, como ele contava. Anos após a morte dele, eu fiquei com vontade de saber sobre a história da minha mãe, que eu acreditava que era a Iraildes, porque eu só tinha uma foto dela e mais nada.
Liguei para a maternidade onde teria nascido e para delegacias de regiões próximas a Tanabi, em São Paulo,onde morei quando bebê, e descobri que a mulher que ele falava que era minha mãe estava morta, mas que também não era a minha mãe verdadeira.
Quem é sua mãe verdadeira ?
Minha mãe é Neide Aparecida Pereira. Descobri pela delegacia de Tanabi,onde tive acesso a documentos que mostram que ela procurava por uma filha que foi sequestrada aos 2 anos por esse homem que se dizia meu pai, o Pedro Antônio Garcia.
Por quanto tempo sua mãe te procurou?
De 1975 a 1977. Eu fui sequestrada no dia 7 de abril de 1975. O Pedro me tirou de dentro de casa. Ele tinha acesso fácil porque era próximo da família.
Como sabe de tudo isso?
Através dos documentos que consegui. Li todos os registros.Mas ninguém sabe de nada. As testemunhas dos boletins já morreram.
Você procurou por sua mãe em Tanabi?
Não tive condições financeiras de ir a Tanabi. Tudo o que consegui foi por telefone e internet. Mas espero que alguém leia esse relato e consiga me ajudar.
Busca por família continua
O caso
-
7 de abril de 1975: o bebê Simone Aparecida Pereira, com 2 anos, foi retirada de casa para um passeio.
-
Pedro Antônio Garcia, na época com 34 anos, retirou o bebê da casa dela e fugiu para Cariacica.
-
A mulher de Pedro, Iraildes da Cunha Lopes, havia morrido um mês antes do sequestro.
-
Pedro Antônio registrou Simone em seu nome, que passou a se chamar Simone Aparecida Lopes Garcia.
-
A mãe verdadeira de Simone, Neide Aparecida Pereira, tinha 22 anos na época em que a filha foi sequestrada.
-
Neide Aparecida fez boletins de ocorrência e procurou a filha por pelo menos dois anos. Os documentos vão de 1975 a 1977.
-
Simone foi criada por Pedro e pela madrasta em Cariacica.
-
Até a morte de Pedro, ela acreditava que a mãe era Iraildes, mas queria saber mais sobre a história dela.
-
Depois que Pedro morreu, Simone buscou informações sobre a mãe, e descobriu que Iraildes havia morrido e que sua mãe era outra, Neide Aparecida Pereira, que a procurou por anos.
-
Com a documentação em mãos, Simone tentou buscar pela mãe, pai e irmãs biológicas, mas sem sucesso.
-
Ainda não há informações sobre o paradeiro da sua família biológica. Simone pede que quem tiver informações entre em contato com o número 27-99786-2635.
Fonte: Simone Aparecida Garcia./Tribuna Online