Somente em Vitória, a prefeitura recolhe 16 toneladas de resíduos das praias e manguezais. Evento no fim de semana busca conscientizar população sobre a importância de preservar o meio ambiente
Os oceanos recebem, por ano, mais de 25 milhões de toneladas de resíduos. Deste total, cerca de 80% têm origem nas cidades e correspondem ao lixo que não é coletado e tem destinação inapropriada. No Brasil, dois milhões de toneladas desses resíduos por ano chegam aos oceanos, volume equivalente a encher sete mil campos de futebol ou 30 estádios do Maracanã da base até o topo. O restante dos resíduos que chegam aos oceanos são das indústrias marítima e pesqueira.
Os dados são de estudos da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, sigla em inglês), em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que associam a poluição marinha à falta de boas práticas na gestão de resíduos sólidos nas cidades.
O estudo também demonstrou que materiais plástico e restos de cigarro correspondem a cerca de 90% dos resíduos encontrados no ambiente marinho brasileiro. No mar, o lixo acaba se tornando alimento para animais, alguns deles consumidos pelos seres humanos, que também são afetados pela sujeira.
“O problema do plástico é que ele pode entrar facilmente em qualquer organismo, inclusive o que nós usamos para comer, como o sururu. Muitos animais marinho se alimentam filtrando partículas que existem na água e essas pequenas partículas ficam acumuladas dentro do organismo. Então, alguns animais que a gente ingere já tem essa sujeira. Existe, então, um risco para a saúde humana”, explica Agnaldo Martins, oceanógrafo e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O professor diz ainda que o despejo de lixo no mar tem uma raiz social e está diretamente relacionado às condições de vida das pessoas. “Temos que refletir sobre onde está o grande problema. Aí perceberemos que o grande problema está na pobreza, na distribuição de renda muito desigual, no fato de ainda existirem pessoas morando em regiões onde não há serviços públicos e uma coleta e destinação de resíduos adequadas. A raiz dessa questão é social. Existe uma diferença muito grande entre países e localidades que têm estrutura, informação, organização da ocupação do solo, de modo que as pessoas, ainda que mais pobres, possam ter uma condição de vida melhor, minimamente decente e digna. Esse é um ponto importante”, afirma.
Martins diz ainda que os fragmentos desses resíduos eventualmente se transformarão em micro e nanopartículas, que estão além das nossas habilidades para controlar, mas causam um imenso impacto negativo nos oceanos. “O lixo existente no ambiente marinho já é um desafio global semelhante às mudanças climáticas. E o problema, que vai muito além daquilo que é visível, está presente em quase todas as áreas costeiras do mundo, trazendo desequilíbrio tanto para a fauna e flora marinhas e comprometendo esse recurso vital para a humanidade”.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, somente em Vitória, a prefeitura chega a recolher 16 toneladas de lixo marinho a cada três meses. “Muitas pessoas quando estão na praia, por exemplo, não depositam o lixo nas lixeiras, colocam na própria areia. Também h´a quem deposita plásticos e outros materiais nas vias públicas. Com a chuva, esses resíduos são trazidos para a rede de drenagem e lançados na baía da capital”, diz Nathan Medeiros, secretário da Central de Serviços de Vitória.
Na Serra, a situação é semelhante a da capital. Segundo levantamento da prefeitura do município, são recolhidas anualmente, aproximadamente, 700 toneladas nas praias e bairros adjacentes no litoral. A prefeitura conta com o projeto “Praia Limpa”, que promove ações educativas e informativas com banhistas sobre a importância de manter o ambiente limpo, enfatizando a problemática do lixo, balneabilidade e a preservação ambiental.
Vida útil do lixo
Um dever básico do cidadão é não jogar lixo nas ruas. Pessoas das mais diversas classes sociais, no entanto, jogam lixo em qualquer lugar, seja em parques, praias, córregos, rios, lagos e outros locais públicos, afetando a qualidade da água e o meio ambiente.
“Jogar lixo nas ruas pode entupir bueiros e causar enchentes. O acúmulo de lixo estimula a proliferação de baratas, de ratos e de doenças. Cidadãos conscientes fazem a sua parte para que a cidade fique limpa e bonita”, diz o oceanógrafo.
Antigamente, o lixo era composto principalmente por materiais orgânicos, como restos de alimentos, que são degradáveis pela ação da natureza. O lixo do homem moderno é composto por montanhas de embalagens e outros detritos.
FONTE:FOLHA VITÓRIA