Fabrício chegou a melhorar, mas teve um infarto quando o irmão de criação foi buscá-lo no hospital e morreu nas primeiras horas desta segunda. “Usa máscara gente, não façam o que eu fiz”, ele apelou.
Um drama de uma vítima da Covid, narrado em vídeo quase que em tempo real, impressionou a população de Colatina neste final de semana. O vídeo, compartilhado num aplicativo de troca de mensagens pela vítima, circulou rapidamente e ultrapassou os limites municipais, tendo ganhado destaque no final da tarde desta segunda-feira (25) na coluna de Leonel Ximenes, no portal Gazeta Online.
No vídeo, o vendedor ambulante Fabrício Paulo Félix, com idade aproximada de 45 anos, relata seu drama com a Covid, entre dores e uma pita de bom humor, e faz algo parecido com uma profecia: “Vamos esperar amanhã para ver se ele vai me arrebentar de novo”.
Não houve amanhã. Nesta segunda-feira, Colatina amanheceu com a notícia de que Fabrício não suportou o “novo ataque” do coronavirus sobre seu organismo e morreu na CTI do Hospital Silvio Avidos. Depois de gravar o vídeo, o estado de saúde de Fabrício agravou e ele foi para o tratamento intensivo, sendo entubado.
O vídeo teria sido gravado na madrugada de domingo, informação que foi confirmada por assistentes sociais do hospital, também abalados pela premonição de Fabrício, que demonstra sofrimento mas chega a brincar com sua luta contra o coronavirus e deixa um recado para que as pessoas não negligenciem a doença e usem a máscara, o que ele, confessadamente, não fez. Com a voz arrastada, Fabrício relata:
“Boa noite, rapaziada. A briga hoje foi feia com esse vírus. Hoje quase que ele me leva. Foi pesado. Ele me arrastou, fez igual crocodilo no Nilo, me abocanhou e rodou. Sabe o giro da morte? Me estraçalhou, só não conseguiu me engolir porque fui forte, um titã. Mas ele me balançou, me chacoalhou, me despedaçou”.
Em seguida, Fabrício faz uma previsão, tentando ser otimista: “Amanhã é o oitavo dia, está passando, mas não está fácil não. Usa a máscara, gente. Faz igual eu fiz não.. não brinca não. Vamos esperar amanhã para ver se ele vai me arrebentar de novo. Se eu passar esses dois dias que vêm agora, estou fora dele”.
O ambulante volta a narrar o que estava passando: “Minhas pernas hoje pingavam água que parecia um balde, descia de perna abaixo, de tanto suor nas pernas”. Em seguida, promete colocar um apelido no coronavírus: “Vou colocar o nome desse vírus de crocodilo do Nilo, porque ele te abocanha e estraçalha. Você pensa que vai morrer! Tá bom. Mas vou conseguir, estou sendo forte. Está fácil não. Abraço meu povo. Obrigado por tudo.”
Estas foram as últimas palavras de Fabrício, que frequentava muito a Banca do Briel, cujo proprietário também já foi contaminado com o vírus, mas conseguiu superar bem: “Eu tinha feito uma cirurgia de coração um ano antes e fiquei preocupado. Mas, graças a Deus, só senti uma febre e perdi o paladar. Esse vírus está muito difícil. Muita gente conhecida morreu em Colatina”.
Dentre pessoas bem conhecidas da cidade, e que não resistiram à doença, estavam o médico Fred Tannure e o dono de jornal José Francisco Mendes. “Mas tem umas 20 pessoas muito conhecidas que morreram”, disse Briel. Segundo o jornaleiro, Fabrício Félix estava morando no bairro São Silvano, depois que se separou da mulher há cerca de dois anos.
De acordo com os últimos números divulgados pela Secretaria de Saúde, Colatina já tem 13.314 casos confirmados de Covid, o que representa 11% da população. Fabrício Félix é a vítima de número 203 na cidade.
(Da Redação com informações da coluna Leonel Ximenes, do Portal Gazeta Online)