Você já ouviu falar de pessoas que sentem vontade incontrolável de comer gelo, terra, cabelo, papel ou até sabão? Esse comportamento pode parecer curioso — ou até bizarro — mas é, na verdade, um distúrbio alimentar reconhecido pela medicina: a Síndrome de Pica.
Esse transtorno, que afeta crianças e adultos, é caracterizado pelo desejo persistente e compulsivo de ingerir substâncias que não são alimentos. E embora o nome soe inofensivo, a condição pode causar sérios danos à saúde, desde infecções intestinais até intoxicação por metais pesados.
O que causa a Síndrome de Pica?
Segundo o neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela, Pós PhD em Neurociências e membro da Sigma Xi, as origens da Síndrome de Pica são diversas e complexas. Ela pode estar relacionada a:
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Deficiências nutricionais (ferro, zinco)
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Anemia ou desnutrição
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Gravidez
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Transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade, autismo, psicose)
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Deficiência intelectual
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Alterações neurológicas no lobo temporal
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Comportamentos aprendidos ou fatores culturais
Além disso, em casos raros, a síndrome pode surgir após cirurgias bariátricas, devido a alterações na absorção de nutrientes.
“A queda na serotonina, neurotransmissor ligado ao humor, à fome e ao sono, pode ser um gatilho importante. A baixa serotonina leva a compulsões, inclusive alimentares, como vemos na Pica”, explica o especialista.
Sinais de alerta e diagnóstico
Nem sempre é fácil identificar a Síndrome de Pica — especialmente em crianças, que tendem a explorar o mundo com a boca. Mas quando o comportamento persiste por mais de um mês e envolve itens não alimentares, o sinal é claro.
O diagnóstico pode envolver:
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Exames de sangue, urina e fezes
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Raios-X, ressonância magnética ou tomografia para verificar a presença de objetos no trato digestivo
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Eletrocardiograma (ECG), em casos com suspeita de intoxicação ou desequilíbrio eletrolítico
⚠️ Riscos graves à saúde
Consumir substâncias não comestíveis pode levar a complicações sérias, como:
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Anemia crônica
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Infecções intestinais (como lombrigas)
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Obstrução intestinal
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Intoxicação por chumbo (em casos de tinta ou solo contaminado)
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Arritmias cardíacas por desequilíbrios no organismo
Como tratar a Síndrome de Pica?
De acordo com Dr. Fabiano, o tratamento é multidisciplinar e pode envolver:
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Terapia comportamental: ensina o paciente a evitar os comportamentos compulsivos
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Reforço positivo e substituição de hábitos nocivos por saudáveis
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Terapia aversiva leve, em alguns casos
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Acompanhamento psiquiátrico, especialmente quando há comorbidades como depressão ou autismo
Medicamentos antipsicóticos podem ser indicados em situações específicas, mas não são a primeira escolha devido aos efeitos colaterais.
Pica não é só “mania” — é um sinal do corpo e da mente
A Síndrome de Pica é um lembrete de que o corpo humano se expressa de formas surpreendentes quando algo está fora do equilíbrio — seja emocional, neurológico ou nutricional.
Observar comportamentos incomuns com atenção e buscar ajuda médica especializada é essencial para evitar complicações e resgatar a qualidade de vida de quem convive com o distúrbio.