“Bruno de Paulo Carvalho, natural de Barra de São Francisco (ES), morreu em combate na Ucrânia. Corpo ainda não foi resgatado e companheiros tentam missão arriscada com uso de drone.”
Barra de São Francisco (ES) amanheceu em luto. O jovem Bruno de Paulo Carvalho, francisquense que lutava como voluntário na guerra da Ucrânia, morreu em combate em uma região atualmente ocupada pelas forças russas. Ele é mais um dos brasileiros que se juntaram às fileiras estrangeiras no front ucraniano — e cuja história termina de forma trágica e ainda sem um desfecho digno.
Segundo relatos recebidos de voluntários que combatiam ao lado de Bruno, o corpo do brasileiro ainda não pôde ser recuperado, pois encontra-se em área dominada pelo inimigo. Os relatos indicam que ele caiu durante um confronto intenso e que, mesmo com tentativas de evacuação, seu resgate foi impossível no momento.
“O corpo de Bruno não pôde ser recuperado por enquanto. Lamentamos muito. Ele está sendo controlado pelo inimigo na mesma área. Ontem, recuperamos de lá, dando instruções por rádio, direcionando a viagem de volta para seu companheiro, Grande. Grande, com um ferimento no estômago, caminhou quase 10 km. Ele não conseguiu recuperar o corpo sozinho com o ferimento”, relata um combatente ucraniano.
A equipe, em um esforço desesperado, agora busca usar um drone Veprik para tentar localizar e resgatar o corpo de Bruno.
“Estamos tentando recuperar o corpo com um drone Veprik. Esperamos que haja soldados que queiram participar da operação de resgate, mas encontrar pessoas para isso agora é honestamente muito complicado…”
Quem foi Bruno de Paulo Carvalho?
Natural de Barra de São Francisco (ES), Bruno vivia há quatro anos em Governador Valadares (MG) com sua companheira, Cecília Fernandes, e os dois filhos: um menino biológico, de 5 anos, e uma menina de 6, criada por ele desde a gestação de Cecília. O casal se conheceu em Mantena (MG), quando ele a atendeu durante um exame de sangue em um hospital.
Técnico de enfermagem, Bruno construiu carreira na saúde pública de Minas Gerais e atuou na linha de frente contra a Covid-19. Durante os períodos mais críticos da pandemia, ele chegou a fazer de cinco a oito transferências diárias de pacientes, e mesmo em seus dias de folga trabalhava com ambulâncias do Samu.
Em 2022, foi contratado pelo Hospital Regional de Governador Valadares, onde permaneceu até maio de 2025, quando tomou a decisão de se alistar no exército ucraniano. A escolha surpreendeu familiares — a esposa só soube do embarque um dia antes. Ele manteve o plano em sigilo, e, sem apoio financeiro da família, arrecadou os recursos para a viagem por meio das redes sociais.
Outros brasileiros mortos na guerra da Ucrânia
A morte de Bruno reacende a comoção nacional já provocada por outros casos semelhantes. Em julho de 2024, o paranaense Murilo Lopes dos Santos, de 26 anos, morreu enquanto tentava salvar um companheiro ferido em Zaporizhzhia. Ele havia deixado o Exército Brasileiro e se juntado como voluntário em novembro de 2022.
Também em 2023, o estudante de medicina Antônio Hashitani deixou seus estudos e viajou para a Ucrânia. Ele perdeu a vida em Bakhmut, outro dos pontos mais violentos do conflito.
Conversa de bruno com familiares: Ele já havia sido ferido na guerra
Em entrevista concedida à nossa reportagem nesta quarta-feira, 03 de setembro, a mãe de Bruno, Bethania Paula da Silva Guese, afirmou que há informações imprecisas sendo divulgadas por sites e redes sociais.
Ela esclareceu que Bruno nunca serviu ao Exército Brasileiro, e que era técnico de enfermagem, com atuação reconhecida na linha de frente contra a Covid-19 em hospitais do interior de Minas Gerais. Ele conheceu a esposa enquanto trabalhava em Mantena (MG), e, mais recentemente, atuava no Hospital Regional de Governador Valadares.
De acordo com a mãe, Bruno disse à família que iria para a Ucrânia para trabalhar como técnico de enfermagem, o que não foi aceito pelos familiares. Em segredo, ele pediu demissão e partiu. Ao chegar na Ucrânia, no entanto, passou a treinar para o combate militar, enviando apenas fotos em uniforme de guerra — sem registros de atuação na área da saúde.
“Em momento nenhum o Bruno postou fotos que estivesse atendendo pacientes como técnico. As únicas imagens eram de treinamentos militares. Ele se tornou um soldado ucraniano”, relatou Bethania.
Ainda segundo ela, nesta quarta-feira à tarde, está previsto para Bethania receber uma chamada de vídeo que poderá trazer uma versão detalhada sobre a morte de Bruno, diferente do que vem sendo divulgado até agora.
O drama da guerra longe de casa
Enquanto as autoridades locais e o Itamaraty acompanham de longe, famílias brasileiras vivem a angústia da guerra por meio de ligações, mensagens esporádicas e — em casos como o de Bruno — pelo silêncio que se segue à notícia da morte. Ainda não há confirmação oficial de quando (ou se) o corpo de Bruno poderá ser repatriado.
Barra de São Francisco se solidariza com a família e clama por reconhecimento. Muitos questionam: até onde vai a coragem de um jovem para cruzar o mundo em nome de ideais?
Repercussão Internacional
A guerra da Ucrânia já fez milhares de vítimas, entre soldados e civis. Recentemente, o Papa Francisco prestou homenagem a um soldado ucraniano de 23 anos, mostrando no Vaticano um rosário e um Novo Testamento que pertenciam ao combatente. O gesto do pontífice mostra que, para além da política, a guerra é feita de vidas reais — como a de Bruno.
Mais um herói que perde a vida numa guerra. Que Deus de um fim a essa guerra que não se vê a hora de acabar, pois quem sofre é os familiares. O mundo poderia viver em paz não em guerras inúteis.